Sistema de captação do volume morto da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista (Foto: Isabela Leite/G1)
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) começou a retirar água da reserva técnica, conhecida como volume morto, da Represa Atibainha, entre
Mairiporã e
Nazaré Paulista. O reservatório integra o Sistema Cantareira, principal fornecedor da Grande São Paulo e da capital, e é o segundo a ter a captação na área mais profunda, abaixo das comportas.
A primeira etapa de bombeamento do volume morto foi dividida em dois blocos: em maio, a companhia iniciou a captação da reserva de 105,5 bilhões de litros no reservatório Jaguari-Jacareí para o abastecimento da população. Em 24 de agosto, mais 77 bilhões de litros começaram a ser retirados da Represa Atibainha. Segundo a Sabesp, as novas ações já eram previstas. O custo total das obras foi R$ 80 milhões.
Nesta segunda-feira (1º), o sistema operava com 10,8% de sua capacidade, já com o volume morto. A Sabesp já tem autorização da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento Estadual de Água e Energia Elétrica (DAEE) para iniciar obra de captação da segunda cota do volume morto, mas não deu detalhes de custo ou prazos.
'Volume morto'O Sistema Cantareira abastece cerca de 9 milhões de consumidores na Grande
São Paulo. As represas vêm secando nos últimos meses e, desde o final do ano passado, a falta de chuvas leva a capacidade a níveis alarmantes. O volume morto começou a ser explorado nos Reservatórios Jacareí-Jaguari em maio.
Na época do início do bombeamento da água do fundo dos reservatórios, o nível saltou de 8,2% para 26,7% da capacidade total do sistema, e água do volume morto foi incorporada ao volume útil. A reserva nunca havia sido utilizada antes porque as bombas não captam nessa profundidade.
A ANA divulgou previsão de que a água no Sistema Cantareira dura até novembro deste ano. Segundo o governo estadual em São Paulo, o volume morto garante o abastecimento até março de 2015. A expectativa é que a estação de chuvas, a partir de outubro principalmente, possa reverter o atual quadro.
Barco fora da água após Represa de Nazaré Paulista
baixar por causa da estiagem (Foto: Isabela Leite/G1)
Seca
O mês de agosto, a exemplo de outros seis meses do ano, terminou com chuvas abaixo da média histórica. Foram 22,7 milímetros contra o esperado de 36,9 milímetros. Dos oito meses do ano até agora, apenas em março choveu mais do que a média. Ao longo dos oito primeiros meses de 2014, a precipitação acumulada foi de 58% do esperado, o que agravou a crise no abastecimento da Grande SP.
A falta de água tem mudado tanto o cenário das represas como o modo de vida de quem reside perto delas. Nas proximidades da Represa de Nazaré Paulista, o músico Aparecido Ribeiro aponta queda na quantidade de turistas que procuravam a região para atividades na água.
"A pessoa chega aqui e pergunta: cadê a água. Eles se decepcionam com o que veem", relatou ele, que começou a trabalhar no projeto no início do ano. O tanque de peixes dele não baixou porque é abastecido por uma mina que desce de um morro ao lado, mas a sogra precisou fechar um bar às margens do canal do Rio Acima, entre Nazaré Paulista e Mairiporã. "Não passava mais barco, então não tinha movimento. A situação só melhorou um pouco porque a Sabesp começou a bombear água da represa para o canal", disse Ribeiro.
As perdas ocorrem por causa de vazamentos na distribuição, ligações clandestinas, roubos e falta de medição. Os dados são os mais recentes disponíveis no SNIS e colocam a capital paulista em 25º lugar no “Ranking do Saneamento Básico nas 100 Maiores Cidades do País”, divulgado pelo Trata Brasil. A metodologia foi desenvolvida pela empresa de consultoria GO Associados.
Moradores lavam as mãos em vazamento no bairro do
Paraíso, em São Paulo (Foto: Victor Moriyama/G1)
A Sabesp rebateu os dados afirmando que, se considerado apenas os vazamentos, a empresa tem índices melhores que o de países desenvolvidos. “Esse indicador era de 20,3% no início de 2014 e já caiu para 19,8% em junho/2014. Nos melhores sistemas do mundo, como Japão e Alemanha, as perdas físicas estão em torno de 8%. No Reino Unido são de 16%, na Filadélfia (EUA) são 25,6%, na França, 26%, e na Itália, 29%”, informou em nota.
Entretanto, a empresa não detalhou os dados, apontando se eles refletem a situação na cidade ou no estado. A companhia informou ainda que prevê aplicar R$ 6 bilhões, entre 2009 e 2020, para atingir índices de perdas de 16,7%. A empresa diz já ter aplicado R$ 1,45 bilhão e que conta com financiamento do Japão.
Motivo da crise
A crise no Cantareira começou por causa da pouca chuva e das altas temperaturas no último verão. No inverno, segundo a meteorologista Josélia Pegorim, da Climatempo, os níveis de chuva estão próximos do esperado para a estação. “Todo o problema de abastecimento de água na Grande São Paulo é decorrente da falta de chuva que aconteceu especialmente no verão 2013/2014”, disse.