O PARQUE DOS DINOSSAUROS PODE VIRAR REALIDADE?
Quem não se lembra de como os dinossauros foram trazidos de volta à vida em Jurassic Park? Insetos presos em âmbar haviam sugado o sangue dos animais extintos. Um grupo de cientistas extrai de dentro do âmbar o DNA dos grandalhões, completa os trechos faltantes com genes anfíbios, e aí está: produz-se a partir disso um embrião, pronto para chocar num ovo.
Descrito assim, parece fazer sentido, não? O problema é que o âmbar – resina fossilizada de plantas – não tem nenhuma propriedade mágica para preservar DNA por tanto tempo. Mesmo que o animal dentro dele – um inseto, digamos – tenha a mesma aparência do dia em que foi capturado no fuido amarelado, o material portador da informação genética não resiste por tanto tempo e inevitavelmente se degrada.
Foi o que confirmaram no ano passado cientistas da Universidade de Manchester, no Reino Unido. Eles tentaram detectar DNA em insetos imersos em âmbar com idade bem modesta – entre 10 mil e 60 anos –, e mesmo nas amostras mais novas foram incapazes de obter qualquer sinal da molécula portadora da informação genética. Imagine com fósseis de mais de 65 milhões de anos (idade necessária para conter algum DNA de dinossauro) qual seria a situação. “Intuitivamente, pode-se imaginar que a rápida e completa imersão em resina, resultando em morte quase instantânea, pudesse promover a preservação do DNA, mas parece que esse não é o caso”, diz David Penney, um dos autores do trabalho. “Então, infelizmente, o cenário Jurassic Park deve permanecer no reino da ficção.”
Uma nova esperança
OK, insetos em âmbar, má ideia. Mas será que esse era o único meio de trazer um dinossauro de volta à vida? Alison Woollard, bioquímica da Universidade de Oxford, no Reino Unido, tem sugerido uma alternativa. Em vez de procurar o DNA dos dinossauros em fósseis, que tal tentar em seus descendentes vivos? Sabemos que, num sentido muito real, as aves são os dinossauros que sobreviveram. Em meio a seu DNA, há trechos e versões de genes hoje inativos e desimportantes para a biologia das aves, mas que formaram a essência dos genomas de seus ancestrais.
Comparando genomas de várias aves, talvez fosse possível fazer um exercício computacional de “devolução” desses genes perdidos, reconstruindo por engenharia reversa os genes dos dinossauros. Não seria simples – afinal, estamos falando de uma trajetória de dezenas de milhões de anos de mutações genéticas –, mas também não parece impossível. “Em tese, poderíamos usar nosso conhecimento da relação genética entre aves e dinossauros para ‘projetar’ o genoma de um dinossauro”,argumenta Woollard.
Já existe poder computacional suficiente para montar genomas quebrados em milhões de pedaços (aliás, esse foi o jeito mais eficaz já descoberto para ler o DNA completo de uma espécie – primeiro quebra-se o dito-cujo em inúmeros pedacinhos para então ler cada um deles e, por fim, remontar tudo na ordem, com base em pequenas sobreposições entre os pedaços).
Claro, mesmo que tenhamos os melhores supercomputadores do mundo, nunca conseguiremos replicar exatamente o genoma de um tiranossauro. Faltam alguns parâmetros básicos, para os quais não temos a menor referência. Por exemplo, o tamanho exato do genoma e o número de cromossomos.
Além disso, o processo de reconstrução do genoma extinto terá de ser conduzido numa base de tentativa e erro. Entretanto, se estivermos dispostos a aceitar apenas uma versão aproximada do que o tiranossauro era em termos genéticos, um simulacro do original, talvez possamos chegar lá.
Dá medo? Dá. Mas e quanto a fazer algo mais modesto, como trazer de volta os mamutes, extintos há cerca de 12 mil anos? Seria bem mais simples e menos aterrorizante. Difícil dizer se algum dia alguém vai ter a coragem necessária para ressuscitar dinossauros extintos. Mas a ideia genérica de usar técnicas de biologia molecular, como clonagem, para recuperar animais perdidos parece inevitável. Em 2000, morreu o último íbex-dos-pireneus, uma espécie de cabra nativa da França e da Espanha. Em janeiro de 2009, ela passou sete minutos “inextinta”, quando uma fêmea clonada nasceu viva, embora com saúde tão debilitada que morreu logo em seguida e inviabilizou a confirmação da ressurreição da espécie.
Daí para um velociraptor há uma enorme distância.Mas se há algo que a ciência nos ensina é que nunca devemos dizer nunca.
Fonte: Superinteressante