QUALIDADE DA ÁGUA EM RIOS NA PARAÍBA OSCILA ENTRE BOA ,RUIM REGULAR NOS ÚLTIMOS ANOS ACENDE ALERTA
Levantamentos da Fundação SOS Mata Atlântica mostram que a qualidade não está boa.
Levantamentos da Fundação SOS Mata Atlântica mostram que a qualidade da água dos rios do bioma na Paraíba não está boa. Dados das três últimas edições do relatório O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica acendem alerta para danos potenciais à saúde humana e à economia.
No Rio Gramame, em João Pessoa, análises chegaram a apontar a qualidade da água como ruim em 2021. No ano passado, amostras coletadas nas imediações da Ponte dos Arcos, apresentaram melhorias e a qualidade da água passou a se classificada como regular.
A qualidade da água também é regular nos rios Sanhauá, em João Pessoa; Paraíba, em Cabedelo; e Mamanguape, em Rio Tinto. Do Sanhauá, foram analisadas amostras do Porto do Capim. A coleta no Rio Paraíba ocorreu nas imediações do Condomínio Alamoana. Já o teste de qualidade do Rio Mamanguape foi feito a partir de águas no trecho da Fundação Mamíferos Aquáticos 2.
A comparação de dados anuais mostra que a qualidade da água caiu no trecho do Rio Mamanguape em Rio Tinto. Em 2020, o estudo classificou as amostras como boas; em 2021, elas foram rebaixadas para regular, classificação que se manteve em 2022.
O Rio Paraíba, em Cabedelo, também perdeu qualidade. Em 2021, a água era considerada boa, mas em 2022 a classificação caiu para regular.
Já o Rio Sanhauá se preservou em situação regular em 2020, 2021 e 2022.
“É um estado de alerta, mas com um alento de que há o mínimo de cuidado. A Paraíba não registrou qualidade ruim ou péssima e isso é bom porque mostra que os rios ainda conseguem ter utilizações importantes, como irrigação ou até mesmo abastecimento”, avalia o coordenador da causa Água Limpa da Fundação SOS Mata Atlântica, Gustavo Veronesi.
O monitoramento da qualidade da água é realizado por voluntários do programa Observando os Rios. Na Paraíba, cerca de 50 pessoas participam do monitoramento.
Normalmente, as equipes também monitoram os rios Cuiá, Jaguaribe e das Bombas, em João Pessoa, e Rio Preto, em Santa Rita, mas dados sobre eles não foram levantados em tempo hábil para elaboração do relatório Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica.
O que pode ser feito
O coordenador da causa Água Limpa da Fundação SOS Mata Atlântica destaca a necessidade de um esforço de toda a sociedade para melhorar a qualidade da água dos rios. Gustavo Veronesi cita o dever do poder público em investir na gestão de resíduos sólidos e na coleta e tratamento de esgoto, além da redução do uso de agrotóxicos e da conscientização ambiental da população e de empresas.
“O ideal seria evitar o uso de embalagens plásticas, que acabam invariavelmente nos rios e, por consequência, nos mares. Se não for possível reduzir o consumo dos plásticos, seria importantíssimo mandá-los para reciclagem. A reciclagem de plástico no Brasil ainda é muito tímida, então a gente precisa melhorar isso. Também é necessário que as empresas achem alternativas e passagem a utilizar embalagens que possam ser reutilizadas ou recicladas com mais facilidade”, defende.
Gustavo Veronesi acrescenta que a falta de iniciativas de preservação dos rios gera danos à saúde pública e a atividades econômicas.
“Muitas pessoas ficam doentes por ter contato ou ingerir água contaminada. Hoje, menos da metade da população brasileira tem acesso ao tratamento de esgoto. Isso impacta também a economia porque muitos usos da água não podem ser feitos por causa da poluição. Atividades econômicas, seja de turismo, lazer, pesca, agricultura ou processos industriais, acabam sendo prejudicadas”, pontua.
Dados nacionais
O relatório O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica mais recente contou com a colaboração de milhares de voluntários do programa Observando os Rios em todo o Brasil. Equipes foram a campo para realizar coletas mensalmente, no período de janeiro a dezembro de 2022, atingindo o total de 990 análises em 160 pontos de 120 rios e corpos d’água. O trabalho abrangeu 74 municípios de 16 estados.
A maioria (75%) dos pontos dos rios tem água de qualidade regular, enquanto 16,2% apresentam qualidade ruim e 1,9% é classificada como péssima. Ao comparar os resultados, observou-se que a qualidade média da água permaneceu a mesma, “com indicativo de pequena melhora”.
egundo a pesquisa, os pontos com qualidade boa passaram de 7 para 8; os de qualidade regular, de 75 para 80; e os de qualidade ruim caíram de 21 para 15. Assim como no ano anterior, houve três pontos com qualidade péssima: todos, mais uma vez, no Rio Pinheiros, em São Paulo.
Segundo a diretora de Políticas Públicas da fundação, Malu Ribeiro, os números refletem a influência da presença humana.
“São áreas bastante antropizadas [alteradas pela ação humana]. Para que a gente tenha qualidade de água boa, seria importante que esses pontos, quando são nascentes, mananciais, rios de classe 1 e 2, estivessem realmente protegidos, sem receber influência de poluição de carga difusa. A amostragem apresenta exatamente a fragilidade dos nossos recursos hídricos. Próximo de grandes centros urbanos ou de áreas com grandes atividades agrícolas e industriais, esses mananciais não estão protegidos e se situam, em média, na classe 3, isto é, com qualidade praticamente regular. Isso é um alerta”, diz Malu.
Para o diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica, Sérgio Lucena, os dados apresentados pela fundação são “chocantes, mas não surpreendentes”. Ele lembra que os números não têm mudado de modo significativo ao longo dos anos, como deveria ocorrer.
“Infelizmente, porque precisam mudar para melhor. Os parâmetros são muito ruins, e isso é, com certeza, uma consequência não só do adensamento populacional, mas do mau uso da água e do solo, da terra. Na zona rural, o mau uso está provocando contaminação e, na área urbana, sobretudo, a falta de saneamento básico”.
Sérgio Lucena comenta que, embora os dados do estudo tenham sua importância, devem ser lidos com reserva, já que não abrangem a totalidade de impactos, como a de rejeitos químicos e de agrotóxicos.
“Essa metodologia captura os parâmetros mais importantes da qualidade de água para o uso doméstico, industrial, agrícola, mas não é uma análise que faça um diagnóstico do uso de agrotóxico. Isso é importante lembrar. Ela trata das questões de turbidez, contaminação biológica, quantidade de nitratos etc., que refletem bem a poluição por esgoto, por lixiviação [retirada de nutrientes de forma natural] do solo”, ressalta.