EL NIÑA JÁ TEM DATA PARA ACABAR E AS PREVISÔES DE 2024 INDICAM UMA POSSÍVEL LA NIÑA
Anos de La Niña constumam ter grandes volumes de chuvas nas regiões áridas do mundo como a região Nordeste do Brasil.
Mapa de anomalia de temperatura da superfície do mar para o dia 17 de dezembro de 2023. Fonte: Climate Reanalyzer.
El Niño, fase positiva do padrão El Niño Oscilação Sul (ENOS), segue ativo e bem intenso sobre o Oceano Pacífico Tropical. Após 6 meses de contínua intensificação, agora o El Niño está atingindo seu pico de intensidade máxima e muito em breve começará a enfraquecer, com isso, muitos modelos começaram a apostar em quando o El Niño acabará!
O atual evento de El Niño entrará para a história como um dos 5 El Niños mais fortes dos registros! Mesmo assim, isso não significa que ele será um Super Niño!
De acordo com a última atualização da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, em inglês), todas as regiões de monitoramento do El Niño registraram Temperatura da Superfície do Mar (TSM) bem acima da média na última semana, com a região do Niño 4, mais a oeste, registrando anomalia de +1.4°C, a Niño 3.4, região oficial de diagnóstico do ENOS, com anomalia de +2°C, o Niño 3 registrando o maior valor de anomalia, de +2.1°C, e o Niño 1+2, próximo a costa da América do Sul, registrando +1.5°C. O valor de +2°C de anomalia na região do Niño 3.4 classifica o atual evento como um El Niño de intensidade forte.
Evolução das anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) para as diferentes regiões do Niño. Fonte: CPC/NOAA
É interessante destacar que a região de máxima anomalia de TSM foi se alterando ao longo dos meses. A primeira região a se aquecer, em março deste ano, foi a região do Niño 1+2. Essa região se aqueceu rapidamente atingindo valores máximos de +3.5°C entre julho e agosto, enquanto as demais regiões iam se aquecendo gradualmente. A partir de setembro as anomalias do Niño 1+2 começaram a enfraquecer, enquanto as demais regiões continuaram se aquecendo. Isso mostra que a região de máxima anomalia de TSM tem se deslocado para oeste ao longo dos meses, mudando a “aparência” do El Niño.
O fenômeno El Niño é estabelecido oficialmente após o registro de anomalias positivas de TSM iguais ou superiores a +0.5°C na região do Niño 3.4 por, no mínimo, 5 trimestres móveis consecutivos.
As observações indicam agora que o El Niño não se intensificará muito mais, ficando com as anomalias em torno dos +2°C, ou seja, se mantendo na categoria de El Niño forte. Esses valores de anomalia têm se mantido nos últimos dias, inclusive chegaram a mostrar uma leve tendência de diminuição, ainda muito singela. Com isso, esse El Niño não ganhará o título de Super El Niño, mas conseguirá ficar no ranking dos 5 El Niños mais fortes, ficando entre os eventos de 1972/73 (+2.1 °C), 1982/83 (+2.2 °C), 1997/98 (+2.4 °C) e 2015/16 (+2.6 °C), de acordo com a NOAA.
Anomalia de temperatura subsuperficial do Pacífico Tropical para a pentada centrada no dia 14 de dezembro de 2023. Fonte: CPC/NOAA
Ao analisar as temperaturas do oceano nos níveis mais profundos do Pacífico Tropical, notamos que ainda existe uma área mais quente que o normal na porção mais central e leste, até 100 metros de profundidade. Porém, desde o final de novembro, uma bolha de águas mais frias começou a ganhar força na porção oeste do Pacífico Tropical, em níveis mais profundos, e na última semana essa bolha avançou para leste. A tendência é que essa bolha de águas frias se misture com as águas mais quentes na porção central/leste nas próximas semanas, e comece a enfraquecer as anomalias positivas de TSM.
Com isso, as previsões dos modelos já começam a indicar o enfraquecimento do El Niño nos próximos meses, com uma alta probabilidade do evento terminar no mês de abril de 2024!
Olhando outros padrões oceânicos além do El Niño
Como mencionamos em outros textos, existem outros padrões oceânicos importantes que, junto com o El Niño, tem alterado os padrões climáticos em várias partes do planeta. Um deles é a fase positiva do Dipolo do Oceano Índico, que também já alcançou seu pico de intensidade máxima em outubro e agora está se enfraquecendo, podendo retornar a fase neutra no início de 2024. Portanto, não esperamos uma grande influência desse padrão nos meses de verão.
Previsão de anomalia de Temperatura da Superfície do Mar do modelo CFS para o próximo trimestre de janeiro, fevereiro e março de 2024. Fonte: CPC/NOAA
As anomalias muito quentes de TSM que cobrem grande parte do Atlântico Norte tem sido o principal destaque nos últimos meses, sendo responsável inclusive pela temporada de furacões mais ativa que o normal deste ano. Junto com o El Niño, o Atlântico Norte mais quente tem desfavorecido a ocorrência de chuvas na porção norte do Brasil, agravando as condições de seca na Amazônia.
O El Niño começará a perder força nos próximos meses, mas continuará impactando o clima global, junto com o Atlântico Norte, que seguirá muito mais quente que o normal no início de 2024!
As previsões sugerem que essas águas quentes no Atlântico Norte irão se manter no primeiro trimestre de 2024. A porção tropical do Atlântico Sul também estará mais quente que o normal, mas não tão quente quanto a porção norte. Além disso, todo o oceano Índico também deverá se manter mais aquecido que o normal durante os próximos 3 meses.
Com o fim do El Niño, o que podemos esperar? Será que virá outra La Niña?
De acordo com as previsões, as anomalias positivas de TSM que caracterizam o El Niño no Pacífico Tropical continuarão acima da média pelo menos até o trimestre de fevereiro, março e abril de 2024 e a partir daí, se iniciará um enfraquecimento mais intenso da porção leste para oeste, iniciando a transição para a fase neutro do ENOS.
Previsão probabilística do ENOS até o trimestre de julho, agosto e setembro de 2024, feita pela NOAA em dezembro de 2023. Fonte: CPC/NOAA.
As previsões probabilísticas da NOAA apontam para uma maior probabilidade de fase neutra do ENOS no trimestre de abril, maio e junho de 2024. Essa probabilidade de fase neutra diminui nos trimestres seguintes à medida que aumenta a probabilidade de La Niña (44%), ficando quase igual a probabilidade de fase neutra no trimestre de julho, agosto e setembro. Isso significa que há chance de uma La Niña se formar no ano que vem? Ainda é muito cedo para dizer algo, mas a chance existe, afinal, já houve vezes no passado que uma La Niña se formou logo após um El Niño forte.