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POR QUE OS ALIMENTOS ESTÃO FICANDO CADA VEZ MAIS CAROS : ENTENDA A RAIZ DO PROBLEMA

 


Aumento de preços tem sido motivo de preocupação para os brasileiros.

Por Redação

26/02/2025 às 15:40 | Atualizado em 26/02/2025 às 15:43

Já sentiu o calor extremo sobre a pele e percebeu os alimentos cada vez mais caros? Você não está sozinho. Essas são duas consequências da crise climática que não passam despercebidas pelas populações do mundo inteiro. Enquanto a terra vai esquentando, a lista de compras vai se tornando inacessível para muitos: café, azeite, ovo e diversos outros itens inflacionados.

De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), as mudanças de temperatura tem desacelerado o crescimento da produtividade agrícola globalmente nos últimos 50 anos.

O exemplo mais recente disso é o café. A nflação do grão subiu para 53,14% nos últimos 12 meses, até janeiro. Somente no último mês, o aumento foi de 9,86%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Segundo a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Isadora Osterno, a crise climática exerce influência sobre o custo dos alimentos no País, de modo geral, e, particularmente no Nordeste, em decorrência do frete das mercadorias.

"O Brasil é um dos maiores produtores de café do mundo e eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e temperaturas elevadas, têm impactado a produção. No caso do café, isso resultou em uma redução da oferta e aumento nos preços”, esclarece.

Em relação ao azeite, por exemplo, que se tornou artigo de luxo na mesa do brasileiro, a alta ocorreu devido à escassez de oliveiras em regiões produtoras de todo o mundo, gerando um aumento nos custos de produção e refletindo no mercado brasileiro, conforme explica a economista.

Mas a lista não para por aí. A crise climática se estende à produção de grãos essenciais como milho, soja e feijão. A economista Isadora Osterno detalha alguns dos efeitos desse problema nos alimentos:

Ovos:

"Apesar da influência sazonal do período da Quaresma, um dos principais fatores para a disparada do preço do ovo é a escassez de ração, especialmente milho e farelo de soja. As secas que afetam a produção dessas commodities (matérias-primas do dia a dia) no Brasil têm elevado significativamente os custos de alimentação das aves, impactando diretamente o custo de produção dos ovos e pressionando os preços para o consumidor";

Trigo:

"O Brasil importa grande parte do trigo da Argentina e as secas e altas temperaturas podem prejudicar a produção, levando a um aumento nos preços no mercado interno. A alta do trigo reflete diretamente no preço de produtos essenciais como pão, massas, biscoitos e farinha, encarecendo a alimentação da população nas diversas faixas de renda";

Carnes:

"O gado depende de pastagens para se alimentar e períodos de seca reduzem a disponibilidade de capim, obrigando os pecuaristas a investir mais em ração. Além disso, a base alimentar do gado é composta por milho e soja, culturas altamente sensíveis à estiagem. Quando a produção desses grãos cai, o custo da ração aumenta, encarecendo a criação do gado e, consequentemente, o preço da carne".

Em relação à carne, o técnico do Observatório da Agricultura Familiar do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Arianderson Melo, lembra que a destruição do ecossistema brasileiro exerceu um impacto significativo.

"A produção do boi encontra-se em um período de baixa em seu ciclo, dado o tempo que leva para o boi crescer, há períodos em que a oferta da carne segue baixa. Junto a isso, tivemos casos de fortes queimadas durante o ano passado, o que devastou diversas áreas de pastagem e obrigou o produtor a alimentar o rebanho com ração, encarecendo o custo da criação e esses custos estão sendo repassados ao consumidor”, avalia.

Nesse contexto, a inflação dos alimentos afeta a população mais pobre de maneira desigual, provocando insegurança alimentar. Para se ter ideia, um estudo do Comitê de Oxford para Alívio da Fome (Oxfam Brasil) revela que, até 2050, as emissões de gases do efeito estufa do 1% mais rico da população mundial poderão resultar em perdas agrícolas suficientes para alimentar 10 milhões de pessoas anualmente no Leste e Sul da Ásia.

Essa discrepância também se reflete no consumo de carbono. O 1% mais rico da população mundial consome sua parcela do orçamento global — a quantidade máxima de CO₂ permitida sem ultrapassar o aquecimento de 1,5 °C — em apenas 10 dias. Em contrapartida, a metade mais pobre levaria quase três anos (1022 dias) para atingir o mesmo nível de emissões.

Diário do Nordeste


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